segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Revista Tô Por Dentro

Revista Eletrônica


Equipe:
Ananda Caroline,
Brenda M.Sousa,
Breno Victor,
Brunna Vieira,
Caroline Santos,
Ilana Elen,
Igor Façanha,
Laiane Barbosa,
Larissa Holanda,
Talita Dalete.

Professor(a): Rose
Série: 1º Pim
Evolutivo-Capital

Sumário

Editorial


A pedido de nossos leitores nesta edição publicamos o especial Machado de Assis.

Em todos os números, pretendemos incluir um artigo da tradição crítica de Machado de Assis e, para este de estréia, achamos que uma boa escolha era Augusto Meyer, cujos textos são até hoje referência indispensável.
Conscientes da importância de dar vez e voz aos novos, deliberamos que cada número desta revista eletrônica incluirá a contribuição de um jovem pesquisador. Neste, por fidelidade ao caráter endógeno referido acima, tem voz e vez a estudante Caroline Santos, aluna do último ano de graduação em Letras da UFRJ, bolsista de Iniciação Científica na Fundação Casa de Rui Barbosa.
Acreditamos que já era tempo de haver em circulação uma publicação exclusivamente dedicada à obra de nosso escritor maior. A opção pelo formato eletrônico se explica por razões de ordem econômico-financeira (ainda não contamos com qualquer apoio dessa natureza) e também por razões de acessibilidade, nesta nossa contemporaneidade cibernética.
Machado de Assis em linha será semestral, saindo um número em junho e o outro em dezembro de cada ano, abrigado no website www.machadodeassis.net, onde os interessados poderão encontrar também um banco de dados, com ferramenta de busca, das citações e alusões identificadas na ficção de Machado de Assis. Para seu lançamento, o ano não podia ser outro senão 2008, Ano Nacional Machado de Assis.
Entre 1o de agosto e 20 de setembro deste ano, pessoas interessadas em publicar no próximo número da revista, por favor façam-no através de "Contato", no site www.machadodeassis.net.


Brenda m. Sousa e Laiane Barbosa
Rio de Janeiro / São Paulo, junho de 2008


Vida e Obra de Machado de Assis

Machado de Assis

(...) Assim são as páginas da vida,
como dizia meu filho quando fazia versos,
e acrescentava que as páginas vão
passando umas sobre as outras,
esquecidas apenas lidas.

"Suje-se Gordo!"


Joaquim Maria Machado de Assis, cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839. Filho de um operário mestiço de negro e português, Francisco José de Assis, e de D. Maria Leopoldina Machado de Assis, aquele que viria a tornar-se o maior escritor do país e um mestre da língua, perde a mãe muito cedo e é criado pela madrasta, Maria Inês, também mulata, que se dedica ao menino e o matricula na escola pública, única que freqüentará o autodidata Machado de Assis.

De saúde frágil, epilético, gago, sabe-se pouco de sua infância e início da juventude. Criado no morro do Livramento, consta que ajudava a missa na igreja da Lampadosa. Com a morte do pai, em 1851, Maria Inês, à época morando em São Cristóvão, emprega-se como doceira num colégio do bairro, e Machadinho, como era chamado, torna-se vendedor de doces. No colégio tem contato com professores e alunos e é até provável que assistisse às aulas nas ocasiões em que não estava trabalhando.

Mesmo sem ter acesso a cursos regulares, empenhou-se em aprender. Consta que, em São Cristóvão, conheceu uma senhora francesa, proprietária de uma padaria, cujo forneiro lhe deu as primeiras lições de Francês. Contava, também, com a proteção da madrinha D. Maria José de Mendonça Barroso, viúva do Brigadeiro e Senador do Império Bento Barroso Pereira, proprietária da Quinta do Livramento, onde foram agregados seus pais.

Aos 16 anos, publica em 12-01-1855 seu primeiro trabalho literário, o poema "Ela", na revista Marmota Fluminense, de Francisco de Paula Brito. A Livraria Paula Brito acolhia novos talentos da época, tendo publicado o citado poema e feito de Machado de Assis seu colaborador efetivo.

Com 17 anos, consegue emprego como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional, e começa a escrever durante o tempo livre. Conhece o então diretor do órgão, Manuel Antônio de Almeida, autor de Memórias de um sargento de milícias, que se torna seu protetor.

Em 1858 volta à Livraria Paula Brito, como revisor e colaborador da Marmota, e ali integra-se à sociedade lítero-humorística Petalógica, fundada por Paula Brito. Lá constrói o seu círculo de amigos, do qual faziam parte Joaquim Manoel de Macedo, Manoel Antônio de Almeida, José de Alencar e Gonçalves Dias.

Começa a publicar obras românticas e, em 1859, era revisor e colaborava com o jornal Correio Mercantil. Em 1860, a convite de Quintino Bocaiúva, passa a fazer parte da redação do jornal Diário do Rio de Janeiro. Além desse, escrevia também para a revista O Espelho (como crítico teatral, inicialmente), A Semana Ilustrada(onde, além do nome, usava o pseudônimo de Dr. Semana) e Jornal das Famílias.

Seu primeiro livro foi impresso em 1861, com o título Queda que as mulheres têm para os tolos, onde aparece como tradutor. No ano de 1862 era censor teatral, cargo que não rendia qualquer remuneração, mas o possibilitava a ter acesso livre aos teatros. Nessa época, passa a colaborar em O Futuro, órgão sob a direção do irmão de sua futura esposa, Faustino Xavier de Novais.

Publica seu primeiro livro de poesias em 1864, sob o título de Crisálidas.

Em 1867, é nomeado ajudante do diretor de publicação do Diário Oficial.

Agosto de 1869 marca a data da morte de seu amigo Faustino Xavier de Novais, e, menos de três meses depois, em 12 de novembro de 1869, casa-se com Carolina Augusta Xavier de Novais.

Nessa época, o escritor era um típico homem de letras brasileiro bem sucedido, confortavelmente amparado por um cargo público e por um casamento feliz que durou 35 anos. D. Carolina, mulher culta, apresenta Machado aos clássicos portugueses e a vários autores da língua inglesa.

Sua união foi feliz, mas sem filhos. A morte de sua esposa, em 1904, é uma sentida perda, tendo o marido dedicado à falecida o soneto Carolina, que a celebrizou.

Seu primeiro romance, Ressurreição, foi publicado em 1872. Com a nomeação para o cargo de primeiro oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, estabiliza-se na carreira burocrática que seria o seu principal meio de subsistência durante toda sua vida.

No O Globo de então (1874), jornal de Quintino Bocaiúva, começa a publicar em folhetins o romance A mão e a luva. Escreveu crônicas, contos, poesias e romances para as revistas O Cruzeiro, A Estação e Revista Brasileira.

Sua primeira peça teatral é encenada no Imperial Teatro Dom Pedro II em junho de 1880, escrita especialmente para a comemoração do tricentenário de Camões, em festividades programadas pelo Real Gabinete Português de Leitura.

Na Gazeta de Notícias, no período de 1881 a 1897, publica aquelas que foram consideradas suas melhores crônicas.

Em 1881, com a posse como ministro interino da Agricultura, Comércio Obras Públicas do poeta Pedro Luís Pereira de Sousa, Machado assume o cargo de oficial de gabinete.

Publica, nesse ano, um livro extremamente original , pouco convencional para o estilo da época: Memórias Póstumas de Brás Cubas -- que foi considerado, juntamente com O Mulato, de Aluísio de Azevedo, o marco do realismo na literatura brasileira.

Extraordinário contista, publica Papéis Avulsos em 1882, Histórias sem data (1884), Vária Histórias (1896), Páginas Recolhidas (1889), e Relíquias da casa velha (1906).

Torna-se diretor da Diretoria do Comércio no Ministério em que servia, no ano de 1889.

Grande amigo do escritor paraense José Veríssimo, que dirigia a Revista Brasileira, em sua redação promoviam reuniões os intelectuais que se identificaram com a idéia de Lúcio de Mendonça de criar uma Academia Brasileira de Letras. Machado desde o princípio apoiou a idéia e compareceu às reuniões preparatórias e, no dia 28 de janeiro de 1897, quando se instalou a Academia, foi eleito presidente da instituição, cargo que ocupou até sua morte, ocorrida no
Rio de Janeiro em 29 de setembro de 1908. Sua oração fúnebre foi proferida pelo acadêmico Rui Barbosa.

É o fundador da cadeira nº. 23, e escolheu o nome de José de Alencar, seu grande amigo, para ser seu patrono.

Por sua importância, a Academia Brasileira de Letras passou a ser chamada de Casa de Machado de Assis.

Dizem os críticos que Machado era "urbano, aristocrata, cosmopolita, reservado e cínico, ignorou questões sociais como a independência do Brasil e a abolição da escravatura. Passou ao longe do nacionalismo, tendo ambientado suas histórias sempre no Rio, como se não houvesse outro lugar. ... A galeria de tipos e personagens que criou revela o autor como um mestre da observação psicológica. ... Sua obra divide-se em duas fases, uma romântica e outra parnasiano-realista, quando desenvolveu inconfundível estilo desiludido, sarcástico e amargo. O domínio da linguagem é sutil e o estilo é preciso, reticente. O humor pessimista e a complexidade do pensamento, além da desconfiança na razão (no seu sentido cartesiano e iluminista), fazem com que se afaste de seus contemporâneos."

BIBLIOGRAFIA:

Comédia

Desencantos, 1861.
Tu, só tu, puro amor, 1881.

Poesia

Crisálidas, 1864.
Falenas, 1870.
Americanas, 1875.
Poesias completas, 1901.

Romance

Ressurreição, 1872.
A mão e a luva, 1874.
Helena, 1876.
Iaiá Garcia, 1878.

Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881.
Quincas Borba, 1891.
Dom Casmurro, 1899.
Esaú Jacó, 1904.
Memorial de Aires, 1908.

Conto:

Contos Fluminenses,1870.
Histórias da meia-noite, 1873.
Papéis avulsos, 1882.
Histórias sem data, 1884.
Várias histórias, 1896.
Páginas recolhidas, 1899.
Relíquias de casa velha, 1906.

Teatro

Queda que as mulheres têm para os tolos, 1861
Desencantos, 1861
Hoje avental, amanhã luva, 1861.
O caminho da porta, 1862.
O protocolo, 1862.
Quase ministro, 1863.
Os deuses de casaca, 1865.
Tu, só tu, puro amor, 1881.

Algumas obras póstumas

Crítica, 1910.
Teatro coligido, 1910.
Outras relíquias, 1921.
Correspondência, 1932.
A semana, 1914/1937.
Páginas escolhidas, 1921.
Novas relíquias, 1932.
Crônicas, 1937.
Contos Fluminenses - 2º. volume, 1937.
Crítica literária, 1937.
Crítica teatral, 1937.
Histórias românticas, 1937.
Páginas esquecidas, 1939.
Casa velha, 1944.
Diálogos e reflexões de um relojoeiro, 1956.
Crônicas de Lélio, 1958.
Conto de escola, 2002.

Antologias

Obras completas (31 volumes), 1936.
Contos e crônicas, 1958.
Contos esparsos, 1966.
Contos: Uma Antologia (02 volumes), 1998.

Em 1975, a Comissão Machado de Assis, instituída pelo Ministério da Educação e Cultura, organizou e publicou as Edições críticas de obras de Machado de Assis, em 15 volumes.

Seus trabalhos são constantemente republicados, em diversos idiomas, tendo ocorrido a adaptação de alguns textos para o cinema e a televisão.

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Realismo / Naturalismo

Os termos "Realismo" e "Naturalismo" frequentemente se confundem e alguns autores falam, então, de "Realismo-Naturalismo". É um estilo que ocorre na segunda metade do século XIX: o marco inicial seria em 1881, com a publicação de "O Mulato" de Aluísio Azevedo (Naturalista) e "Memórias póstumas de Brás Cubas" de Machado de Assis (Realista), e o ano final seria 1893 com a publicação de Missal e Broquéis de Cruz e Sousa.
A arte realista-naturalista ocorreu em um período de consolidação do poder político da burguesia que tinha seu gosto estético orientado para uma arte racional, isto é, desprezavam o excesso de sentimentalismo romântico. O Realismo-Naturalismo ultrapassou, entretanto, os limites da burguesia e se tornou uma arte inovadora e voltada para os interesses populares.
Realismo: os escritores voltavam-se para a observação do mundo objetivo. Procuravam fazer arte com os problemas concretos de seu tempo, sem preconceitos ou convenções. Focalizavam o cotidiano. O adultério, o clero e a sociedade burguesa em crise tornaram-se temas para as obras desse período.

Naturalismo: radicalizou o determinismo (o homem como produto de leis físicas e sociais) do movimento realista. Essa nova tendência apareceu em uma situação de grande pessimismo. Os escritores naturalistas introduziram o chamado "romance experimental" contra o esteticismo em que se enveredava a arte. O movimento não se restringiu à ciência positivista. Registrou, como os realistas, não o passado, mas o presente com temas inovadores e linguagem atual. Denunciou a hipocrisia e caracterizou as lutas sociais, temáticas novas, que anteciparam a literatura de ênfase social do século XX.

Os principais autores foram Machado de Assis (importante ressaltar que não podemos incluir Machado de Assis totalmente nesse estilo de época, pois suas obras são mais complexas e tem características peculiares), Aluísio Azevedo e Raul Pompéia.

REALISMO E NATURALISMO

romances

O Realismo é uma reação contra o Romantismo:
O Romantismo era a apoteose do sentimento; - o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos - para condenar o que houve de mau na nossa sociedade.
(Eça de Queirós)

Em 1857 é publicado na França o romance "Madame Bovary", de Gustave Flaubert, considerado o primeiro romance realista da literatura universal. O primeiro romance naturalista é publicado em 1867, sendo "Thérèse Raquin", de Émile Zola. No Brasil, considera-se 1881 o ano inicial do Realismo brasileiro, com a publicação de "O Mulato", de Aluísio Azevedo (primeiro romance naturalista brasileiro); e "Memórias Póstumas de Brás Cubas"", de Machado de Assis (primeiro romance realista do Brasil).

As características do Realismo estão intimamente ligadas ao momento histórico, refletindo as idéias do Positivismo, do Socialismo e do Evolucionismo. Manifesta o objetivismo, como uma negação do subjetivismo romântico; o personalismo cede terreno ao universalismo; o materialismo leva a negação do sentimentalismo.O Realismo preocupa-se com o presente, o contemporâneo (a volta ao passado histórico do Romantismo é posta de lado).

Os autores do Realismo são adeptos do determinismo, pelo qual a obra de arte seria determinada por três fatores: o meio; o momento; e a raça (esta dizendo respeito à hereditariedade). O avanço das ciências, no século XIX, tem grande influência, principalmente sobre os naturalistas (daí falar-se em cientificismo nas obras desse período). Ideologicamente, os autores desse período são antimonárquicos (defendem o ideal republicano); negam a burguesia (a partir da célula-mãe da sociedade, daí a presença constante dos triângulos amorosos - o pai traído, a mãe adúltera e o amante, este sempre um "amigo da casa"); são anticlericais (destacam-se os padres corruptos e beatas hipócritas).

Romance realista

É uma narrativa mais preocupada com a análise psicológica, fazendo crítica à sociedade a partir do comportamento de determinados personagens. Faz uma análise da sociedade "por cima", visto que seus personagens são capitalistas, pertencentes à classe dominante. Este tipo de romance é documental, sendo retrato de uma época. Foi cultivado no Brasil por Machado de Assis, em obras como "Memórias Póstumas de Brás Cubas", "Quincas Borba" e "Dom Casmurro".

Romance naturalista

Sua narrativa é marcada pela análise social a partir dos grupos humanos marginalizados, valorizando o coletivo. A influência de Darwin é marcante na máxima naturalista segundo a qual o homem é um animal, deixando-se levar pelos instintos naturais, que não podem ser reprimidos pela moral da classe dominante. A constante repressão leva às taras patológicas, bem ao gosto dos naturalistas; esses romances são mais ousados, apresentando descrições minuciosas de atos sexuais, tocando até em temas como o homossexualismo. Foi cultivado no Brasil por Aluísio de Azevedo ("O Mulato") e Júlio Ribeiro. Raul Pompéia é um caso a parte, pois seu romance, "O Ateneu", apresenta características ora naturalistas, ora realistas, ora impressionistas. Existem várias semelhanças entre o romance realista e o naturalista, podendo-se até mesmo afirmar que ambos partem de um ponto comum para chegarem a mesma conclusão, sendo que percorrendo caminhos distintos.

SÍNTESE DOS AUTORES DO REALISMO/NATURALISMO BRASILEIRO:

Romance realista

· Machado de Assis

· Raul Pompéia (com características tanto do Realismo quanto do Naturalismo)

Romance naturalista

Social

· Aluízio de Azevedo

Urbano

· Júlio Ribeiro

Obras:

· Padre Belchior de Pontes

· A Carne

Adolfo Caminha

Obras:

· O Bom Crioulo

Principais Representantes no Brasil

· Machado de Assis

· Raul Pompéia

· Aluízio de Azevedo

Machado de Assis, o contista

O CONTO EM MACHADO DE ASSIS

Ananda Caroline nos informa que a produção do contista Machado de Assis se inicia em 1858 (com Três tesouros perdidos) e estende-se aos inícios do século XX, com a produção de quase 300 contos, publicados nos jornais e revistas da época. “O conto tornou-se em suas mãos matéria dúctil, com fisionomia reconhecível, na qual [...] exercia a magia encantatória de suas variações sobre o tema predileto: a humanidade com seus vícios intemporais.”

Em Murmúrios no espelho, análise que apresenta os Contos de Machado de Assis, Flávio Aguiar aponta a diferença entre conto e romance: “O romance procura representar o mundo como um todo: persegue a espinha dorsal e o conjunto da sociedade. O conto é a representação de uma pequena parte desse conjunto. Mas não de qualquer parte, e sim daquela especial de que se pode tirar algum sentido [...]” E é um profundo sentido da flutuação dos valores éticos, da predominância de valores gastos e hipócritas, da acomodação do homem a interesses falsos, da irredutível passagem do tempo, das perdas morais, da decadência física, da presença da morte, da proximidade da loucura que Machado de Assis revela em seus contos.

Embora o conto literário já viesse se firmando no Brasil a partir de meados do século XIX, com Álvares de Azevedo e Bernardo Guimarães, é com Machado de Assis que essa forma ficcional revela todas as suas possibilidades. Reconhecido como o maior prosador da literatura brasileira, a produção de seus romances marcada pela habilidade de construir textos mesclados da ironia nascida da observação da sociedade em que vivia, é principalmente como contista que se revela um narrador capaz de prender e conduzir a atenção de seu leitor.

Nos contos machadianos, revela-se uma sociedade habitada por seres solitários capazes de alcançar tão somente uma felicidade mesquinha. A vida desenrola-se como alguma coisa que escapa ao controle dos personagens, alheia a suas vontades. A sociedade de convenções a todos esmaga e a eles impõe vidas inautênticas, vazias.

O contador de casos, que se distancia, numa postura literária de observador, e revela uma visão abrangente da sociedade do Segundo Império e da Primeira República, faz do leitor uma presença constante em suas narrativas. É como se a ironia que destila em seus períodos curtos e marcantes fosse resultante do distanciamento procurado para a observação e devesse ser partilhada com o leitor, com o qual divide observações e do qual cobra o mesmo não-envolvimento.

Sobre a ironia, ensina ainda Flávio Aguiar: “na ironia está uma das vigas mestras da arte de escrever contos, ressaltada pela urgência do pouco espaço [...]”.

Machado de Assis mostra extrema habilidade na elaboração de seus contos de observação e psicológicos, com foco narrativo autobiográfico, em que o ponto de vista do personagem narrador e suas motivações tornam-se exclusivas. A ironia vai-se expandindo não só na análise dos hábitos sócio-culturais da sociedade do Rio de Janeiro, mas na observação da própria natureza humana, apresentada em seus vícios e limitações permanentes. A apresentação dos personagens atende ao desenvolvimento dessa que foi a sua temática mais constante e se projeta no aspecto psicológico que os revela.

Senso de observação, pessimismo, ironia, sensualidade e um inegável senso de humor com que equilibra o pessimismo são aspectos enfeixados em sua arte combinatória capazes de fazer de seus contos o que Alfredo Bosi chama de “um dos caminhos permanentes da prosa brasileira na direção da profundidade e da universalidade”.

Sobre a realização do conto, tinha Machado de Assis a preocupação de não cansar o leitor. Mais alertava para o processo de criação: “[...]

É gênero difícil, a despeito da aparente facilidade, e creio que essa mesma aparência lhe faz mal, afastando-se dele os escritores, e não lhe dando, penso eu, o público toda a atenção de que ele é muitas vezes credor.”

Quanto à execução formal dos contos de Machado de Assis, apresenta Ananda Caroline as variantes seguintes:

1. desenvolvimento de um incidente marcante, com cronologia seqüencial linear;

2. análise de motivações psicológicas;

3. adoção de formas literárias tradicionais, com intenção filosófico-moralizante;

4. análise de um caráter.

Raros são os contos anedóticos de Machado de Assis (Pai e mãe, A cartomante). Sua preferência estava em desenhar aspectos do psiquismo humano e revelar os valores desgastados de uma sociedade desencadeadora de comportamentos e situações equívocas.

Ananda Caroline alerta o leitor: “Saborear um texto machadiano não é uma tarefa ‘simples’: a leitura de reconstrução é complexa, pois envolve uma dupla decodificação – o que está sendo afirmado no nível da história e o que está sendo veiculado sobre um texto anterior na inversão quase sistemática proposta pelo autor”.

OBS: Você encontra toda a obra de Machado de Assis no site http://www.cce.ufsc.br/~nupill da Universidade Federal de Santa Catarina.

Resumo: “A cartomante e outros contos”


A cartomante

A cartomante é a historia de Vilela, Camilo e Rita envolvidos em um triângulo amoroso. A historia começa numa Sexta-feira de novembro de 1869 com um dialogo entre Camilo e Rita. Camilo nega-se veementemente a acreditar na cartomante e sempre desaconselha Rita de maneira jocosa. A cartomante está caracterizada neste conto como uma charlatã, destas que falam tudo o que serve para todo mundo. É um personagem sinistro, que apesar não ter nem o seu nome revelado, destaca-se como um personagem que ludibria os personagens principais. Rita crê que a cartomante pode resolver todos os seus problemas e angústias. Camilo já no fim do conto, quando está prestes a ter desmascarado seu caso com Rita, no ápice de seu desespero, recorre a esta mesma cartomante, que por sua vez o ilude da mesma forma como ilude todos os seus clientes, inclusive Rita. A mulher usa de frases de efeito e metáforas a fim de parecer sábia e dona do destino de Camilo, este que sai de lá confiante em suas palavras e ao chegar no apartamento de Vilela encontra Rita morta e é morto a queima roupa pelo amigo de infância, que já está sabendo da traição da esposa e o esperava de arma em punho.

Outros contos


  • O caso da vida

Damião fugiu do seminário numa sexta-feira de agosto em 1850 ao parar no sinal fechado pensou para onde iría.O mesmo percebeu que jornais iria para casa de seu pai, pois além de levar um bom castigo, teria que voltar para o seminário então teve a idéia de ir para casa de sinhá Rita uma senhora que era amiga de Rita mas quando convinha era braba como o diabo, uma de suas criadas esqueceram o trabalho e executar o Damião e sinhá Rita pegou uma vara e amassou-a.

A negrinha foi agarrada com a vara pela velha, agora presa de um acesso de tosse, que suplicava por ajuda.


  • A Sereníssima República (conto do livro Papéis Avulsos)

O conto se passa em um cenário acadêmico, no qual um cônego realiza uma conferência – como sugere o subtítulo da obra – reunindo no mesmo salão cavalheiros distintos em prol da curiosidade científica que lhes é comum. O cônego Vargas, que discursa perante o auditório, introduz ao público que sua teoria não é recente, mas que ainda não se sentia confiante para anunciá-la, uma vez que julga estar incompleta. Decidiu, pois, antecipar a divulgação devido a um cientista inglês que, aparentemente, realizava progressos na mesma área. Conhecendo-se a mídia científica, o crédito recairia todo sobre as costas do estrangeiro caso não se apressasse o cônego do Brasil ao demonstrar a superioridade de suas descobertas.


  • Teoria do Medalhão (conto do livro Papéis Avulsos)

Às onze horas da noite, findado o jantar que comemorava os vinte e um anos do jovem Janjão, este senta-se com seu pretensioso pai para conversarem um pouco. A figura do pai é caracterizada pelo intenso desejo de realizar-se em seu filho, a quem trata com respeito e, sobretudo, com orgulho. Após demonstrar a Janjão as incontáveis possibilidades profissionais das quais este pode se servir em razão de sua juventude, o pai revela-lhe que caminho a ser percorrido doravante é longo e de muitos desgostos. Desse modo, convém reservar um “ofício” de estabilidade superior ante qualquer outro: o de “medalhão”. A figura do medalhão é empregada analogamente, ou seja, assim como o medalhão trata-se distintivo – aquilo que se mostra para ser distinguido – a pessoa que assume essa posição se comporta de tal modo que é diferenciada das demais. O pai conta que alcançar o sucesso como um medalhão sempre foi o sonho de sua vida que não pôde ser realizado e que para tanto é exigido bastante tempo.

Entrevista com Machado de Assis

O grande autor Machado de Assis está em Fortaleza para divulgar a sua nova obra,”A CARTOMANTE E OUTROS CONTOS”. Com exclusividade para a revista “TÔ POR DENTRO”, ele falará sobre o seu livro.

1-(Larissa Holanda): Estou muito contente em entrevistar o senhor e dizer que sou uma grande fá. Mas a pergunta que não quer calar é se o livro foi baseado em fatos reais ou é uma ficção?

(Machado de Assis): Muito obrigado por ser minha fã e respondendo a sua pergunta, o livro é baseado em fatos reais mas com “pequenas alterações”.

2-(Larissa Holanda): Mas aconteceu com o senhor ou com uma pessoa próxima?

(Machado de Assis): Aconteceu comigo. Isso foi no colegial, era a minha primeira namorada e um amigo meu a cortejou. Mas já é passado e perdoei os dois.

3-(Larissa Holanda): Qual a sua expectativa em relação ao lançamento?

(Machado de Assis): Tomara que ele seja um sucesso igual aos outros livros e que ele chegue a ser um dos livros recomendados pelas universidades do Ceará ou do Brasil.

4-(Larissa Holanda): Descobrimos que há projeto de um filme baseado em seu livro.O que o senhor acha?

(Machado de Assis): Não sou contra porque a mídia aborda esse tema em diferentes casos e meios de comunicação.Sou a favor da união dos meios de comunicação para falar desse tema e de outros que são diariamente vistos na nossa sociedade.

5-(Larissa Holanda): Conversamos com o diretor do filme e ele disse que o filme será igual ao livro, e o seu resumo é uma mulher que trai seu noivo com o amigo de infância dele.Em uma das perguntas o senhor respondeu que aconteceu com o senhor e como aconteceu.Porque houve essa “pequena alteração” de história?

(Machado de Assis): Essa minha história é bastante conhecida pelos meus fãs e não queria expor a minha intimidade e eles compararem este livro com uma biografia.

(Lrissa Holanda): Sabemos que o livro pertence a oibra de literatura juvenil.Então porque a leitura é tão hermética (compreensão difícil) em vez de coloquial?

(Machado de Assis): Sempre me baseio nos séculos anteriores e trago os tipos de linguagem utilizada no tempo do meu avô.Todas as minhas obras tem esse tipo de linguagem, então recomendo o uso de dicionários para haver uma melhor compreensão do contexto.O filme é apenas um dos meios para entender melhor o filme.

(Larissa Holanda)- Obrigada pela entrevista e que o lançamento seja um sucesso.

Está é a revista “TÔ POR DENTRO” que sempre tenta aproximar a cultura com a sociedade.

Carta do Leitor

• Além de revista “TÔ POR DENTRO” ter devolvido o prazer de ler, tem proporcionado um banho de lucidez com o livro de Machado de Assis.Ao contrário do que dizem alguns incautos seus textos não são sofríveis.
Sofrível (estado cultural de cada pessoa.) (Talita Dálete)


• Parabéns “tô por dentro” pela esclarecedora entrevista com o escritor Machado de Assis sobre o livro A cartomante e outros contos. Pela primeira vez o tema foi abordado com clareza, veracidade e espontaneidade. O mais interessante foi notar que ao contrario de outras obras, esta conta uma história de drama, realidade, paixão e etc. (Brenda M. Sousa)


• Literalmente, chorei de alegria e tristeza ao ler a entrevista com Machado de Assis foi uma das manchetes que gostei bastante.
A revista esta com um ótimo conteúdo e sei que não ira decepcionar seus leitores.beijos (Ilana Elen)


• Foi gratificante descobrir através de To por dentro, ao longo do ano, novidades sempre foi o forte da revista, e é essa atitulde que me atrai.
Sempre renovando, fatos históricos, publicações de manchetes sobre cronista, escritores e etc. (Brunna Vieira)



• A revista é de mais não tem comparação com outra revista ela aborda diversos tipos de assuntos, cada semana uma reportagem diferente, além de ter ser uma fonte de pesquisa também acaba se tornando um livro.
faleu !!! (Igor Façanha)



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Curiosidades

· Joaquim Maria Machado de Assis era mulato, epilético, pobre, gago.

· Era bisneto de escravos e filho de Joaquim, um pintor de paredes mulato, e de Maria Leopoldina, uma lavadeira. Ele nasceu no Morro do Livramento, ficou órfão de mãe aos 3 anos e de pai, aos 11. Não freqüentou escola e tornou-se vendedor de balas na rua para a tia doceira.

· Foi caixeiro, guarda-livros e aprendiz de tipógrafo.

· Aos 30 anos, casou-se com a irmã do poeta Faustino Xavier de Novais, Carolina, contra a vontade da família dela. Morou com Carolina até ela morrer, em 1904. Nos 4 anos seguintes, Machado guardou os tapetes tecidos pela mulher para que ninguém mais pisasse neles, os fios de cabelo que ficaram na escova e o sabonete que ela usava.

· Numa festa, uma senhora abordou o escritor Machado de Assis e comentou: "Tinham-me dito que o senhor é gago e vejo que não é tanto". Replicou ele: "Pois tinham-me dito que a senhora era estúpida e vejo também que não é tanto".